Fale-nos sobre você.
Eu escrevo histórias de ficção que costumam tocar duas vertentes: o terror e as mazelas da vida em sociedade. Invariavelmente, críticas sociais e questões de cunho político são citadas nos meus textos. Minha primeira obra publicada foi “Ana que vivia no espelho”, uma noveleta que aborda os reflexos, na vida adulta, dos traumas vividos por uma mulher na sua infância e adolescência. Nessa mesma temática, escrevi “Mulheres que temiam seus pais” e “Nudes, mentiras e ameaças”. Mas foi uma distopia política que me levou à 7a edição do Prêmio Kindle de Literatura, do qual fui finalista com “Onde pousam os urubus”. Sou autor e cofundador do Boteco Editorial, a nova casa do terror nacional. Resido na Europa há 13 anos, ao lado da minha esposa, duas filhas e um cão.
Fale-nos sobre sua editora. Por que resolveu abri-la?
O Boteco Editorial surgiu em 2021 como um coletivo de autores. Participávamos de uma leitura coletiva quando surgiu a ideia de escrevermos uma antologia de terror. Foi assim que nasceu “Boteco Maldito”, uma antologia na qual os contos acontecem todos no mesmo lugar: o Bar do Perpétuo, na cidade fictícia de Santa Cruz dos Murmúrios, em Minas Gerais. A proposta foi tão bem-aceita pelo público que, nos anos seguintes, vieram outras antologias e alguns contos natalinos de terror. Conforme a nossa base de leitores foi crescendo, decidimos que era chegada a hora de transformar o selo independente em uma editora, o que foi oficializado no dia 20 de julho deste ano. Para inaugurar o Boteco como editora, lançamos “Patrão, me vê a conta”, a nossa primeira antologia com contos selecionados por meio de edital e cuja estrutura narrativa segue as características que prezamos na nossa linha editorial: terror ambientado no Brasil, com linguagem própria e, por que não, com uma pitada de humor.
Link da editora:
Fale-nos sobre o projeto no Catarse.
“As grades que nos separam” é meu mais recente trabalho, um suspense de crime onde três histórias se cruzam e se encaixam num único e surpreendente desfecho. Será o primeiro romance a ser publicado pelo Boteco como editora. Por esse motivo, o seu conselho editorial decidiu pelo financiamento coletivo da obra. Acreditamos no financiamento coletivo não somente como uma ferramenta para viabilizar a publicação de nossos títulos, como também uma espécie de termômetro sobre o que nossos leitores querem ler. Se a campanha for bem-sucedida, saberemos que estamos no caminho certo; caso contrário, testaremos o modelo com outros títulos e outras temáticas. Ouvir o nosso público é uma forma de seguir aprimorando a nossa oferta como editora.
Link do projeto:
https://www.catarse.me/as_grades_que_nos_separam_6e6b?ref=ctrse_explore_pgsearch
Fale-nos sobre seus outros livros.
Além da trilogia que se iniciou com “Ana que vivia no espelho”, de “Onde pousam os urubus” e do meu novo livro em campanha no Catarse, publiquei uma trilogia de ficção política, intitulada “Brasil de Leviatã”, a qual considero meus textos mais viscerais, definitivamente não apropriados a leitores sensíveis. Tenho duas coletâneas de contos: “Sobre seres urbanos”, que aborda estereótipos da vida na Grande São Paulo; e “Contos horríveis que ninguém deveria ler”, cujas histórias seguem diversas vertentes do terror. A noveleta “Pequenas plantações de gansos” contém elementos de terror gótico e o romance “O toque da pele morta” explora a dura realidade da Cracolândia.
Como analisa a literatura de terror/horror publicada por autores nacionais?
Vejo três grandes tendências na literatura nacional de terror da atualidade: a nostalgia do terror dos anos 80 e 90; o resgate de lendas e costumes regionais; e o terror como forma de expor as mazelas de nossa sociedade. Não por acaso, alguns dos melhores títulos da atualidade foram escritos por mulheres. Elas trazem pelo menos dois desses três elementos para as páginas de seus livros e seus textos tendem a fugir do lugar-comum. Ainda há espaço para o terror cósmico e para histórias de vampiros, lobisomens e outras lendas importadas de outras culturas, mas a vanguarda está no “abrasileiramento” do terror e na sua aproximação à nossa dura realidade cotidiana.
Uma pergunta que não fizemos e que gostaria de responder.
Para concluir, gostaria de falar um pouco sobre a cultura do cancelamento. Acredito que existe uma enorme diferença entre escolher não financiar discursos de ódio e confundir a mensagem que uma pessoa escritora quer transmitir em seus textos com uma suposta opinião pessoal sobre aquilo que é abordado na sua escrita. O terror pode ser transgressivo, ele tem o direito de explorar as situações mais absurdas e abomináveis, porque o seu propósito é esse. Não se escreve terror para aquecer corações. Esse gênero de ficção tem por finalidade despertar o medo, incomodar, fazer com que as pessoas sintam repulsa dos atos de seus personagens. Essa é a forma que o terror serve de alerta. Se autocensurar ao escrever terror é o mesmo que classificar “O Rei Leão” como 18+ porque não queremos traumatizar as crianças com a morte de Simba. Temos que ser claros sobre o que escrevemos e por que o fazemos. Os leitores de terror merecem a nossa honestidade nesse sentido.
CIDA SIMKA
É licenciada em Letras pelas Faculdades Integradas de Ribeirão Pires (FIRP). Autora, dentre outros, dos livros O enigma da velha casa (Editora Uirapuru, 2016), Prática de escrita: atividades para pensar e escrever (Wak Editora, 2019), O enigma da biblioteca (Editora Verlidelas, 2020), Horror na biblioteca (Editora Verlidelas, 2021), O quarto número 2 (Editora Uirapuru, 2021), Exercícios de bondade (Editora Ciência Moderna, 2023), Horrores da escuridão (Opera Editorial, 2023), Dayana Luz e a aula de redação (Saíra Editorial, 2023) e Mariano (Opera Editorial, 2024). Colunista da revista Conexão Literatura.
SÉRGIO SIMKA
É professor universitário desde 1999. Autor de mais de seis dezenas de livros publicados nas áreas de gramática, literatura, produção textual, literatura infantil e infantojuvenil. Idealizou, com Cida Simka, a série Mistério, publicada pela editora Uirapuru. Colunista da revista Conexão Literatura. Seu mais recente trabalho acadêmico se intitula Pedagogia do encantamento: por um ensino eficaz de escrita (Editora Mercado de Letras, 2020) e os mais novos livros de sua autoria se denominam Exercícios de bondade (Editora Ciência Moderna, 2023), Horrores da escuridão (Opera Editorial, 2023), Dayana Luz e a aula de redação (Saíra Editorial, 2023) e Mariano (Opera Editorial, 2024).
Paulista, escritor e ativista cultural, casado com a publicitária Elenir Alves e pai de dois meninos. Editor da Revista Conexão Literatura (https://www.revistaconexaoliteratura.com.br) e colunista da Revista Projeto AutoEstima (http://www.revistaprojetoautoestima.com.br). Fã de Edgar Allan Poe. Chanceler na Academia Brasileira de Escritores (Abresc). Associado da CBL (Câmara Brasileira do Livro). Participou em mais de 100 livros, tendo contos publicados no Brasil, México, China, Portugal e França. Publicou ao lado de Pedro Bandeira no livro “Nouvelles du Brésil” (França), com xilogravuras de José Costa Leite. Organizador do livro “Possessão Alienígena” (Editora Devir) e “Time Out – Os Viajantes do Tempo” (Editora Estronho). Fã n° 1 de Edgar Allan Poe, adora pizza, séries televisivas e HQs. Autor dos romances “Jornal em São Camilo da Maré” e “O Clube de Leitura de Edgar Allan Poe”. Entre a organização de suas antologias, estão os títulos “O Legado De Edgar Allan Poe”, “Histórias Para Ler e Morrer de Medo” e outros. Escreveu a introdução do livro “Bloody Mary – Lendas Inglesas” (Ed. Dark Books). Contato: ademirpascale@gmail.com