ENTREVISTA:
Conexão Literatura: Poderia contar para os nossos leitores como foi o seu início no meio literário?
José Alberto Janeiro: Tudo começa na década de 90 do sec. passado depois de imensas conferencias que fui fazendo sob o titulo: “A Bíblia como documento histórico”, onde explicava a componente da parte histórica da Bíblia que se consegue provar com recurso á arqueologia. Aí explicava como se consegue ainda hoje “seguir” o percurso do êxodo e os supostos milagres que se foram “produzindo”, o que se sabe sobre figuras como Nabucodonosor I, Herodes e outras figuras históricas do Antigo e Novo Testamento e se o que ali se diz foi mesmo assim. Isto despertou muito a atenção e havia questões sobre se havia este tipo de informação num livro só e daí escrevi o 1º livro “Afinal onde está dEUS?”. Como fiquei com muita informação decidi, muito mais tarde, 3 anos depois, escrever um romance histórico, com uma base muito factual do que se sabia sobre a historia de Moisés e apareceu o 2º livro: “6º Livro do Profeta”, 6º, porque se atribui a Moisés a escrita do Pentateuco, ou os primeiros 5 livros da Bíblia, coloquei a historia na primeira pessoa como se fosse um relato dele mesmo. Ali aborda-se a primeira ligação, primeira porque estou a escrever um livro sobre essa temática, da origem dos Genesis e da Arca de Noé á Babilônia e á mitologia Sumérica, com Gilgamés e o que essa mitologia diz sobre a origem da vida e que foi transposto para a Bíblia com outros nome e nomenclaturas.
Na verdade, não foi bem assim que a minha aventura de escrita começou, mas sim com poesia e prosa poética, onde já tenho muitos poemas ou prosa poética publicada em diversas Antologias a escrita começou mais por aí. Curiosamente com 10/12 anos pediam-me textos para as festas de Natal no colégio, eram coisas muito ingênuas de acordo com a idade. Profissionalmente, tenho igualmente imensos artigos profissionais em revistas da especialidade de Gestão/Economia.
É importante contudo realçar que com 20 anos, tenho 66, comecei a olhar para a problemática da religião com a ideia que nada disso “batia certo”, isto depois de, por imposição familiar (a minha mãe era Brasileira e crente), ter cumprido todo o processo na igreja católica, até ao crisma, fui tentar entender estas questões, primeiro com um livro fantástico: “A Bíblia tinha razão?” do jornalista/ensaísta Werner Keller, li numa noite! Desenganem-se os crentes que achem ser um livro que justifica seja o que for sobre a Bíblia, no que concerne á justificação da fé, aborda apenas a componente da parte histórica da Bíblia. E depois disto nunca mais parei o meu estudo sobre as religiões e a componente da historia da humanidade e não apenas na parte religiosa. Na verdade tinha que entender porque sou ateu!
Conexão Literatura: Você é autor do livro “XIII Luas – A grande caminhada da humanidade”. Poderia comentar?
José Alberto Janeiro: Quero começar por esclarecer que este livro, é um livro de não ficção, não é um romance, mas um livro quase enciclopédico sobre o que conhecemos sobre 13 temas importantes sobre a humanidade, como tudo surgiu e como nos influenciaram. Na verdade, o livro, aparece por razões quase de egoísmo: por doença hereditária tive que iniciar o processo de hemodiálise, o meu médico aconselhou-me a ler e comprei imensos livros, pois não sabia quantos anos iria estar no tratamento até ao transplante renal. Comecei por ler e iniciei pelo “Sapiens – uma breve história da humanidade” de Yuval Harari, gostei, mas soube-me a pouco, achei que faltava muita coisa na história descrita. E decidi parar de ler outros livros, como o Homo dEUS do mesmo autor entre outros, e começar a escrever a “minha” historia da humanidade. Escolhi 13 temas que fossem um marco do percurso da humanidade desde o homo Sapiens até hoje, este foi o ponto de partida. Assim, mantenho-me ocupado durante as 4 horas de tratamento e tudo fica mais fácil. Este livro, no fundo, é também fruto do que fui continuando a estudar, porque sigo o grande e imenso Leonardo da Vinci quando disse algo como: “compreender o mais belo dos prazeres”, esta frase está no inicio de todos os meus livros.
Conexão Literatura: Como é o seu processo de criação? Quais são as suas inspirações?
José Alberto Janeiro: O processo de escrita dos meus livros requer um profundo planeamento dos livros, coisa que faço primeiro. Depois então vou tratando dos temas e sub temas que possam estar dentro de cada capitulo. Este livro XIII Luas tem 525 paginas tive que gerir muito bem os temas para o essencial, senão seria o dobro e ficava impraticável. Ao longo dos capítulos, vou inserindo notas de rodapé para que a leitura seja fácil dado que os temas podem não ser totalmente entendíveis por todos, contudo, tive o cuidado para que a linguagem fosse muito objetiva e muito clara, fazendo com que a leitura seja muito cativante e o conhecimento ali expresso fosse util e entendível para todos, isto porque o CONHECIMENTO VALE MAIS QUANDO PARTILHADO. Como referi, em resposta á pergunta atrás, a minha grande fonte de inspiração é o único ídolo que tenho, Leonardo da Vinci e o que ele representou para o conhecimento. Sou fascinado pelas suas descobertas e pela sua historia de vida e a imensa capacidade de realização. Quando vou a Itália vou sempre a Vinci, sinto ali uma ligação muito emotiva. Aquela pessoa foi uma num milhão e deveria ter sido imortal fisicamente, merecia essa honra.
Conexão Literatura: Poderia destacar um trecho do seu livro especialmente para os nossos leitores?
José Alberto Janeiro: sim claro! Gosto muito do primeiro capitulo do livro: O UNIVERSO, onde procurei mostrar tudo o que sabemos sobre o grande mistério da origem da vida, quando digo tudo é mesmo TUDO, desde a ciência, á teoria Criacionista, até ás religiões animistas, o que elas dizem. Aqui podem ver uma comparação que criei entre a teoria do Big Bang e os Genesis e naturalmente as muitas notas explicativas de rodapé.
Penso que o inicio do capitulo pela sua poesia e pela abertura do livro será o trecho que escolho:
“Numa noite longínqua, um ser humano ficou encantado com a festa que se produzia no céu estrelado e com aqueles pontos brilhantes, a que mais tarde chamaram luminárias, depois estrelas, hoje sabemos que são sóis em profusão que existem no espaço que achamos ser infinito. Mas aquele ser humano não podia saber isso. Para ele, era um dos muitos mistérios insolúveis e que tantas vezes se achava que os responsáveis por isso era, ou eram, uma qualquer entidade ou entidades divinas, e que assim comandavam a sua existência, sendo responsáveis por aquilo que não tinham como explicar.
Naquele momento, aquele ser primitivo não tinha ainda imaginado como responder às questões que lhe martelavam na cabeça. Sentia-se confuso e talvez os seus companheiros da tribo não se tenham questionado, porque continuavam na sua vida pacata de caçadores-recolectores, mais preocupados com a obtenção de alimento, (só muito mais tarde, quando a agricultura os dominou, os obrigou ao sedentarismo), do que com as questões secundárias sobre a sua existência. Por essa altura, ainda não se teriam questionado, nem procuravam as explicações para as dúvidas que eles achavam pouco importantes. Hoje, continuamos com as mesmas dúvidas, mas já entendemos um pouco mais do universo e do nosso grão de areia, a terra, que está inserida nesta imensidão que nos rodeia.
A origem de tudo isto, continua a ser um mistério e a apaixonar a ciência que procura respostas e, acima de tudo, procura outros seres viventes em outras dimensões. Muito se evoluiu desde que se considerava a terra como o centro do universo e uma obra maravilhosa explicada por um deus criador, hoje sabemos um pouco mais, mas o mistério ainda persiste, teimosamente, pois o universo continua a esconder os seus segredos.
Para termos uma ideia e olharmos para isto em perspectiva, seria bom começar por entender que a estrela mais próxima de nós, sem ser o sol claro, chama-se Alpha Centauri C que fica a quase 5 anos-luz, ou dito de outra forma, fica a qualquer coisa como 9,5 triliões de km, ou seja, necessitaríamos exatamente quase 5 anos para chegar lá à velocidade hoje impossível de 299.792.458 metros por segundo — a velocidade da luz. Para termos uma ideia da monstruosidade do que falamos, a essa velocidade chegaríamos ao nosso sol em apenas 8,3 segundos, que é o tempo que demoraria a percorrer os 149.597.870 km que nos separam da nossa fonte de vida. Sim, a dimensão do universo é impensável e inimaginável para os nossos padrões de entendimento. Ficamos com um “buraco” na imaginação quando nos esforçamos por entender o que convencionámos chamar infinito, que aparentemente é a dimensão do universo. Mas como não conseguimos, na nossa existência finita, entender essa dimensão e esse conceito, a pergunta imediata é: “e o que fica para além disso?”, é uma pergunta quase automática. “
Conexão Literatura: Como analisa a questão da leitura em Portugal?
José Alberto Janeiro: Um imenso problema e uma enorme tristeza! São poucos os que se interessam pela leitura. Tentei apresentar o livro no liceu da minha terra e explicar como se processa a escrita, bem como a aprendizagem e propus oferecer para a biblioteca da escola 3 exemplares e ainda hoje espero uma resposta. Uma tristeza. Penso que talvez seja transversal em todo o lado. As escolas não me parece que incentivem a leitura. Quando estudava éramos incentivados pelos professores de Português a ler por um lado os clássicos e a fazer os trabalhos refletivos sobre esses livros lidos e por outro a ler livros que nos pudessem despertar interesse… e íamos para as bibliotecas. Tive excelentes professores de Português, cuja homenagem tenho em agradecimento nos meus livros. Hoje, com a facilidade de acesso aos livros e à informação, constato que há um enorme desinteresse e uma profunda literacia. Fui professor na universidade e foi muitas vezes um choque ao que assisti. Tentei incentivar as minhas filhas e agora a minha neta a lerem, a entrega de brinquedos a todas terminou quando já sabiam ler e interpretar e em vez disso livros e o incentivo à leitura como fonte de conhecimento e aprendizagem.
Conexão Literatura: Como o leitor interessado deve proceder para adquirir o seu livro e saber um pouco mais sobre você e o seu trabalho literário?
José Alberto Janeiro: O livro, está á venda em Portugal e no Brasil, a editora Portuguesa é do “grupo” onde a IPÊ das Letras se insere, a Atlantic Books, daí ele estar disponível na Livraria IPÊ das Letras. Basta ir ao site da Livraria www.ipedasletras.com, carregar do lado direito em “livraria on-line” e onde diz “buscar” procurar por “XIII LUAS”, assim mesmo, e podem ali ler a sinopse depois de carregarem na imagem do livro. Sobre mim, há informação por procura no Google por “José Alberto Janeiro” e ali podem inclusivamente ouvir, ler e ver a minha biografia e as entrevistas. Podem sempre segui-me nas redes sociais: Facebook Jose Janeiro-autor, idem para Instagram onde coloco muita informação e temas á discussão.
Conexão Literatura: Existem novos projetos em pauta?
José Alberto Janeiro: sim, sem duvida. Agora estou aposentado e continuo na hemodiálise. Estou a escrever um livro com mais dois amigos sobre o Mistério de dEUS, titulo ainda provisório, onde estará a posição de um crente, de um agnóstico e a minha como ateu, penso que será um livro muito interessante pelas 3 visões que terá. E como já terminei a minha parte desse livro, vou continuar a escrever o que interrompi sobre o titulo: “Os deuses que vieram de longe – e como são hoje adorados”, abordará a problemática da possibilidade de o dEUS/Deuses terem sido fenômenos alienígenas mal interpretados e TODAS as provas que hoje se conhecem sobre o assunto, mais uma vez um livro enciclopédico.
Perguntas rápidas:
Um livro: A Desilusão de Deus de Richard Dawkins, penso que no Brasil tem um título ligeiramente diferente, não tenho a certeza, a ler fabuloso.
Um ator ou atriz: Como gosto de filmes de ação então Bruce Willis, agora com problemas de saúde.
Um filme: 2001 odisseia no espaço de Stanley Kubrick, marcante! Co-escrito por Stanley Kubrick e Arthur C. Clark, vi o filme imensas vezes.
Um hobby: Estudar, aprender e conhecer. Mais “mundano”: até há pouco tempo: vela, paraquedismo e aviação ultra leve, agora não posso mais devido á dialise.
Um dia especial: tenho vários, as datas de nascimento das minhas filhas e neta e o dia em que terminei o brevet e pude imitar as águias, um pássaro fabuloso, que por vezes me acompanhavam nos voos ao meu lado, um sonho enorme de liberdade.
Conexão Literatura: Deseja encerrar com mais algum comentário?
José Alberto Janeiro: Penso que ficou claro que me considero ateu, por ter estudado desde há 40 anos a problemática das religiões e em simultâneo a evolução da humanidade, apenas tenho como interesse partilhar conhecimento e mostrar as bases desse conhecimento e o que conseguimos saber sobre tantos mistérios da humanidade, como tudo apareceu e aconteceu, em caso algum quero impor nada, apenas transmitir esse entendimento, depois cada um tira as suas conclusões. Leiam o livro XIII LUAS – A GRANDE CAMINHADA DA HUMANIDADE, porque foi escrito durante 1 ano e meio, com o objetivo de explicar e nada tem a ver com a fé das pessoas, cabe ao leitor decidir, ali estão só factos e explicações de base histórica, a crença de cada um é a sua intimidade. Eu não acredito em dEUS, você que é crente tem aqui a oportunidade de refletir e entender como tudo aconteceu, o porquê das coisas. Faça-o de mente aberta. Pretende-se que seja apenas uma porta aberta para o CONHECIMENTO. LEIA-O!
Paulista, escritor e ativista cultural, casado com a publicitária Elenir Alves e pai de dois meninos. Editor da Revista Conexão Literatura (https://www.revistaconexaoliteratura.com.br) e colunista da Revista Projeto AutoEstima (http://www.revistaprojetoautoestima.com.br). Fã de Edgar Allan Poe. Chanceler na Academia Brasileira de Escritores (Abresc). Associado da CBL (Câmara Brasileira do Livro). Participou em mais de 100 livros, tendo contos publicados no Brasil, México, China, Portugal e França. Publicou ao lado de Pedro Bandeira no livro “Nouvelles du Brésil” (França), com xilogravuras de José Costa Leite. Organizador do livro “Possessão Alienígena” (Editora Devir) e “Time Out – Os Viajantes do Tempo” (Editora Estronho). Fã n° 1 de Edgar Allan Poe, adora pizza, séries televisivas e HQs. Autor dos romances “Jornal em São Camilo da Maré” e “O Clube de Leitura de Edgar Allan Poe”. Entre a organização de suas antologias, estão os títulos “O Legado De Edgar Allan Poe”, “Histórias Para Ler e Morrer de Medo” e outros. Escreveu a introdução do livro “Bloody Mary – Lendas Inglesas” (Ed. Dark Books). Contato: ademirpascale@gmail.com