Fred Caju – Foto divulgação

O título do livro, segundo o Aurélio, quer dizer lugar em que há duas vias, ou do qual partem, ou ao qual chegam dois caminhos.  Se desenhada, a palavra Bívio (Cepe Editora) – título do novo livro de poesias de Fred Caju – resulta nos sinais bipartidos ‘maior que’ e ‘menor que’ da matemática, uma situação de desigualdade entre os números. Nesta publicação, eis os algarismos que a definem: 108 páginas, divididas em Livro I e Livro II, 21 poemas e 40 versos em cada um deles. A obra será lançada dia 15 de setembro, às 19h, na Livraria Travessa de Ipanema, no Rio de Janeiro, com direito a bate-papo com o autor, mediado pela professora de Literatura da UFRJ, Luciana Di Leone.

Diz a editora-assistente da Cepe, Gianni Gianni, na sinopse: “Nesta lírica amorosa, que se debruça muitas vezes sobre questões cotidianas, Fred Caju recorre a essa imagem dual – tanto na estrutura do texto quanto nos seus assuntos – para compor o seu próprio Bívio.”

Mal sobrava tempo/ pra cuidar das suas/ velhas cicatrizes/ e novas feridas/ que você — felina —/ já se colocava/ pronta pra batalha:/ de navalha aberta/ e pés serelepes,/ com sua habilidade/ de rasgar as sombras/ com a luz sagitária/ do seu peito exposto/pelas ruas do mundo./ Você, barco a vela,/ disco-voador,/ submarino amarelo,/ metrô, bicicleta;/ seguia pra bem longe/ sem se importar como.

Amor, água, barcos, natureza, urbanidade e literatura são referências do conteúdo poético. Na estrutura, a quadratura do objeto livro é inescapável ao autor, que vê nela uma aliada de sua escrita, menos na rima do que na métrica. “Com o tempo, passei a usar métricas visuais, contar caracteres de cada linha e pensar sempre na quantidade de versos ou estrofes de cada poema, como se fosse uma métrica vertical”, declara o editor e artesão da Castanha Mecânica, autor de mais de 20 títulos. Entre eles, Nada consta (Cepe Editora, 2018), vencedor do então Prêmio Pernambuco de Literatura, atual Prêmio Hermilo Borba Filho. 

Despetalei guirlandas/quando setembro veio/dançar no calendário./

Demos à brisa aval/pra virar vendaval/e impiedosamente/varrer as peripécias/que escrevemos nas folhas/onde nós misturávamos/nomes em anagramas./Isso quando sobrava/espaço nas centenas de partidas de jogo-da-velha que empatávamos,/eu sempre usava xis/e tu repetias bola.

Não sei se isso também/te coloca em alerta,/mas notei o quanto um xis/pode ser alarmante.

Em Bívio aparecem mais elementos de prosa que seu O Revide das Pequenas Maldades (Castanha Mecânica, 2017), única coletânea de contos do autor pernambucano. O brincante da matemática interna das palavras se diverte com a quebra do verso e da normatividade da separação silábica. O contexto é político, de não dizer ‘sim, senhor’ à língua portuguesa. “É o idioma do colonizador que se firmou com o etnocídio dos povos originários”, lembra o poeta. 

Que força é esta/ que exige a carne/ dura, a armadura,/ a arma na agulha,/ o corpo hirto,/ os ossos para fora/ da pele, os olhos/ secos e a palavra/ sempre grave dentro/ da boca. Que força é/ esta que nunca me/ habitou — me diga?/ Falhei mil ilhas,/ errei outros tantos/ oceanos e não sei.

Serviço

Lançamento do livro Bívio (Cepe Editora)

Quando: 15 de setembro

Onde: Livraria Travessa de Ipanema – Rio de Janeiro

Horário: 19h

Preço do livro: R$ 35 

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