A literatura, como nós sabemos, não é alheia aos fatos externos que a formam, assim, o contexto social permeia as publicações e geralmente pode representar a percepção e os sentimentos de uma sociedade. No caso recente de nossa literatura chama a atenção que as publicações de 2016 em alguns casos tenham trazido fatos recentes e em geral, ainda incompreendidos.
Refiro-me aos protestos de 2013, atos estes que marcam uma mudança no país cuja compreensão ainda não está clara, pois num momento em que parecíamos navegar em águas tranquilas, de repente, do nada as ruas se enchem de manifestações, algo que veio a fortalecer os movimentos de 2016, contudo há de se observar todas as distinções entre ambos, sendo que os de 2013 permanecem um mistério para analistas, políticos e o cidadão em geral.
E é essa incompreensão que justamente percebemos em algumas obras recentes que colocam os protestos de 2013 em suas narrativas. Obras como Meia-Noite e Vinte, de Daniel Galera, por exemplo, e Descobri Que Estava Morto, de J. P. Cuenca tocam nos acontecimentos como nós mesmos tocamos: com incompreensão. Em ambos os livros os protestos surgem como surgiram nas ruas, tomam-as, mas sem uma clareza objetiva, deixando personagens perplexos diante os acontecimentos que lá estão, mas sem qualquer possibilidade de entendê-los por completos. E a presença dos protestos de 2013 não restringe-se a apenas essas duas obras, pois publicações como o elogiado O Marechal de Costas, de José Luiz Passos ainda que uma narrativa sobre o passado, o presente surge em meio aos tumultos de 2013 e seus desdobramentos políticos.
Enfim, ilustrei aqui alguns exemplos de obras brasileiras embebidas pelas ruas e pelos protestos, e como nossos autores e nossa literatura tem percebido este agitado – e muitas vezes retrógrado momento – e certamente existem outras obras publicadas ou não em que o ano de 2013 surgiu ou surgirá, afinal, para o bem ou para o mal, tempos difíceis são prolíficos para a literatura.  
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