Quando publiquei Morgan: o único já lá nos distantes 2011 o cenário para literatura fantástica parecia uma ponte cheia de esperanças e expectativas. Era o início de um boom que veio a se consolidar uns dois anos depois. À época, recordo, o livro lançando em maio foi o primeiro romance do gênero, contudo praticamente concomitante com lançamentos que vieram logo em seguida como o livro de Alexandre Callari e o Terra Morta do Tiago Toy. Entretanto, aquela era uma pequena invasão zumbi à brasileira, mas a literatura fantástica nacional já convivia com seus anjos e lobisomens e tudo se encaminhava para a consolidação da fantasia no país. Porém, hoje, ao olhar para nossa literatura fantástica desconfio que algo aconteceu no meio do caminho, “havia alguma pedra por ali”, pois parece-me que a ficção fantástica topou o cume do monte mas luta contra uma avalanche nesse momento. Isso, inclusive não é uma percepção única de minha parte, hoje uma dos mais atuantes autores no gênero fantástico, Christopher Kastensmidt aponta isso em entrevista que tive a oportunidade de perguntá-lo. Então aqui, creio que a pergunta do título está quase respondida, contudo, regressemos um pouco mais.
Não há dúvida de que a esperança no fantástico ganhou fôlego com o fenômeno que se tornou A Batalha do Apocalipse, de Eduardo Spohr, e também os Dragões de Éter do Raphael Draccon. Eles somados ao “mais antigo” case de sucesso, André Vianco, de certa forma serviam de estímulo e impulso. Além disso, as publicações estrangeiras também estavam recheadas de literatura fantástica, e de repente tínhamos com as possibilidades da internet talvez milhares de autores de literatura fantástica no país, tanto é que sites como O Nerd Escritor recebiam muitas contribuições.
Mas, embora tivéssemos os exemplos, especialmente no trio já citado, a literatura fantástica permanecia de algum forma marginalizada. Surgiram então, graças à publicação sob demanda “ene” editoras pequenas com catálogos que tinham de tudo que se pudesse imaginar de criaturas fantásticas, abrindo as portas da primeira publicação para muitos autores que no fundo desejavam chegar no mesmo grupo de Draccon e Spohr. Alguns conseguiram, outros não, mas sem entrar nessa questão, talvez aqui tenhamos um princípio de problema, pois estas pequenas editoras não estavam preparadas. Muitas tiveram problemas que passaram do amadorismo ao pilantrismo mesmo, o que nos dias de hoje ainda causa certo efeito na literatura fantástica. Além disso, não demorou para que as grandes casas editoriais percebesse, “olha, aí está um nicho com leitores”. E então elas entraram em campo com suas habituais seletividades, mas de forma firme que de certa forma também impactou a publicação periférica. Ainda assim, quando as grandes entraram em campo, pensou-se “agora a literatura fantástica” deslancha.
Vimos então selos como o Fantasy da Casa da palavra ser criado, editoras como a Saída de Emergência aportarem por aqui, e mais do que isso, quase todas as casas passaram por algum tempo e seu catálogo fantástico, muitos com autores estrangeiros e uma leve, mas interessante inserção de autores nacionais. Com isso, tivemos muita coisa publicada, de steampunk a zumbis nacionais, porém o fôlego logo foi sumindo, e hoje, por exemplo, nestas grandes casas o que rege são youtubers e soft porn, e isso não é recriinação, porque, amigos, uma editora tem que pagar as contas, e se a coisa vende eles publicam, mas enfim, isso já seria outra questão. 
O fato é que nesse intervalo de tempo, e aqui não digo que não tenhamos nada mais publicado em literatura fantástica, as coisas não se consolidaram como imaginávamos. Muitos selos de ficção fantástica foram extintos, no caso da Saída de Emergência e da revista Bang, por exemplo, largaram o Brasil de mão, isso sem falar que nossos principais nomes do gênero, hoje também não frequentam mais as principais listas como outrora, o que sem dúvida alguma traz reflexos para todo o gênero. Penso eu que vivenciamos de alguma forma um “ouro de tolo”, mascaramos por algum tempo uma realidade sórdida do país, a de que temos poucos leitores, e o pior, leitores volúveis e de escolhas muitas vezes questionáveis como pudemos perceber com as listas de mais vendidos. Todavia isso não significa que não se tenha mais literatura fantástica ou que não tenhamos leitores, sim existimos, porém, talvez não em quantidade suficiente para sustentar uma presença permanente como a ocorrida entre 2016 e 2014, o que de certa forma revela que ficamos um pouco reféns dos “leitores modinha”. Mas enfim, são apenas algumas reflexões, talvez eu esteja enganado, por isso fiquem à vontade com seu comentários. 
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4 respostas

  1. Dré, não há aqui uma culpabilização dos leitores, apenas indicação de alguns pontos que devem ser observados. Vejamos que mesmo os autores que citaste hoje não possuem o mesmo desempenho. De toda forma, valeu o comentário.

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