Nos finais de semana a piscina era um verdadeiro “point” onde os jovens, mais velhos que nós crianças, se encontravam. Lembro-me dos maiôs antigos, dos risos, das tardes de céu azul, da água que espirrava nos olhos, do sol que queimava gostoso sem nunca fazer mal e do tempo que não passava, ou passava lento demais nos permitindo uma felicidade incrivelmente duradoura. Gosto do Saramago que diz que “naquelas épocas remotas, para as infâncias que fomos, o tempo aparecia-nos como feito de uma espécie particular de horas, todas lentas, arrastadas, intermináveis. Tiveram de passar alguns anos para que começássemos a compreender, já sem remédio, que cada uma tinha apenas sessenta minutos …”

A piscina do Zé Hilton foi a pérola de minha infância. Jamais poderei esquecer os momentos de grande alegria que passei lá. Aprendi a nadar ali naquele pedacinho de água e também meus irmãos. Meu pai, vendo que não abríamos mão de ir à piscina, concordou que fizéssemos uma em nosso próprio quintal, para alívio de minha mãe. Demos início de imediato ao projeto, nós e nossos primos, cavando sofregamente um buraco. Mas neste tempo, chegou a notícia de que teríamos que mudar de cidade pela transferência de posto de meu pai. E ficamos a ver navios, ou melhor, piscinas e bem de longe. Asseguro que de todas do mundo, nenhuma outra teve água mais gostosa do que a de minha infância.

Nunca mais fui àquela piscina, é claro. Sei que hoje já nem existe, mas na minha vívida memória ela está intacta. Há pouco tive a oportunidade de ver fotos cedidas gentilmente pela Heloise, filha do Zé Hilton. Marejei os olhos de lágrimas e atravessei o tempo, me enrosquei entre as pessoas no preto e branco daquelas fotos e me senti inundada de alegria e gratidão. Fica minha homenagem e meu agradecimento ao Zé Hilton por ter contribuído para minha felicidade de pequena. No fundo, no fundo, não passamos de crianças que apenas cresceram. 

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