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“(…) é preciso considerar que as formas produzem sentido, e que um
texto estável na sua literalidade investe-se de uma significação e de um
estatuto inéditos quando mudam os dispositivos do objeto tipográfico
que o propõem à leitura.”
 
 – Roger Chartier 

Ao
abordarmos a história do livro no Brasil, relatamos a difusão do acesso
aos recursos de editoração e de aquisição do livro no país, bem como a
circulação de conhecimento/discursos/ideias (e também a não circulação
de outros). No que se segue, iremos apresentar uma série de artigos
(sendo este o primeiro) que irão perpassar por essa história, desde o
início da atividade editorial, durante a colonização, até o mercado
editorial atual. Nesse percurso, compreenderemos, sobretudo, a história
das editoras e das livrarias como mecanismos que permitiram um circuito
de acessibilidade ao livro moderno.

O Período Colonial

Segundo Sodré (1970 apud HALLEWELL, 1985, p. 8), a tipografia no Brasil foi introduzida primeiramente nas colônias pelos colonizadores — onde havia uma cultura local altamente desenvolvida, que o poder colonial objetivava reprimir. Nos primeiros duzentos anos da colonização, a tipografia foi utilizada em grande parte como um instrumento que auxiliava a evangelização cristã, já que era implantada pela iniciativa clerical e sua produção tinha por finalidade atender as necessidades do clero (Ibid., p.8).

Ainda assim, de imediato, não houve a necessidade da implementação de uma tipografia no país, visto que os aborígenes permaneciam na Idade da Pedra, portanto, não se configuravam como uma civilização que precisasse ser superada pelos catequizadores. Quanto às conjecturas que dizem respeito aos jesuítas terem trazido uma impressora com eles, não há fontes históricas ou arqueológicas sobre tal afirmação.

Mesmo que a administração da América portuguesa continuasse dispensando a necessidade de se inserir a tipografia no país, as demais colônias viam tal necessidade como um imperativo a ser aceito, dada as instâncias governamentais. Alguns anos mais tarde, com o impacto da invasão napoleônica, tal necessidade se tornaria indubitável para as colônias.

O primeiro experimento efetivo de introdução à tipografia no Brasil foi feita pelos holandeses, quando ocupavam o nordeste, entre 1630 e 1650. Eles selecionaram um tipógrafo chamado Pieter Janszonon, que ficaria encarregado pela tipografia do Recife, mas consta que ele faleceu logo que chegou ao Brasil, em agosto de 1643 (Ibid., p. 13). Depois disso, deixaram de se preocupar com o assunto.  

Os Primórdios da atividade editorial

De acordo com Ferreira de Carvalho (1908 apud Ibid., p.13), cerca de 60 anos depois, o Recife recebeu a primeira impressora do Brasil. E segundo Serafim Leite (apud Ibid., p.14), tal impressora funcionou de 1703 a 1706, contudo,  em ambas as fontes não há nenhuma prova da existência da máquina.

Por outro lado, no Rio de Janeiro, em 1747, há provas de ter havido uma impressora, através de folhetos impressos na época. O responsável pela implementação foi Antônio Isidoro da Fonseca, um renomado tipógrafo de Lisboa que viera para o Brasil. Isidoro tivera problemas em Portugal com a inquisição, por ter sido editor de “O Judeu”, obra que contava a história de Antônio José da Silva, um carioca nascido em 1703 de uma família de judeus convertidos, que acabou sendo queimado em um dos últimos autos de fé, em outubro de 1739 (Ibid., p. 15). 

No entanto, tão logo a notícia da tipografia chegou a Lisboa, e houve ordem para fechá-la, por não ter sido considerada conveniente, no momento, a impressão na colônia. Após três anos, Isidoro solicitou licença real para instalar novamente sua impressora, no Rio de Janeiro ou em Salvador, jurando jamais imprimir sem as devidas licenças eclesiásticas, mas seu pedido não foi concedido (Ibid., p. 20).

O impedimento de Portugal quanto à impressão no Brasil foi o que fez com que todos os originais brasileiros da época fossem publicados na Europa. Dentre esses casos, pode-se citar a obra “Marília de Dirceu”, de Tomás Antônio Gonzaga, que ente 1792 e1800 teve quatro edições em Lisboa. Mesmo sem a inserção da tipografia no país, em 1792, têm-se registros de que havia uma livraria no Rio de janeiro, chamada Paul Martim, que oferecia livros de medicina e religião, entretanto, a maior parte do acervo era contrabandeada. A Paul Martim funcionou até 1823 (MACARTNEY, 1793 apud Ibid., p. 25).

Referências

HALLEWELL, L. O livro no Brasil: sua história. São Paulo: EDUSP, 1985.

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