Para inaugurar a revista Marvel Fanfare, em 1982
a casa das ideias escalou Chris Claremont, a grande estrela da editora. Junto
com John Byrne ele havia transformado os X-men, um título de segundo escalão,
em campeão absoluto de vendas. Para a aventura de estreia da nova revista, Claremont
bolou uma trama grandiosa, unindo o Homem-aranha, os X-men e Kazar. Essa
história foi publicada no Brasil em Marvel especial 6, uma revista tão
valorizada que me foi roubada duas vezes (foi a partir desse primeiro roubo que
comecei a assinar meus exemplares – eu levei para a escola, um amigo roubou,
assinou e no dia seguinte apareceu dizendo que tinha comprado).

Na história, Tania Andersen, namorada de Karl
Lykos, consegue convencer o Anjo a ir para a terra selvagem procurar por seu
amado. Peter Parker vai na expedição como enviado do Clarin (impressionante a
disponibilidade de JJ Jameson para pagar viagens internacionais para seus
funcionários!). Lá eles se deparam com o vilão Imago e seus comparsas, que usam
um aparelho para reverter evolutivamente os prisioneiros. No processo, para
salvar sua namorada e os outros, Lykos acaba se transformando no vilão Sauron,
um pterodátilo inteligente. Na segunda parte da história, os X-men enfrentam
Sauron com a ajuda de Kazar.

Uma das curiosidades dessa história é que ela foi
desenhada por três artistas e tudo muda de um capítulo para o outro, inclusive
o ritmo narrativo. Como na Marvel os desenhistas têm mais liberdade para
estabelecer a narrativa visual, o texto de Claremont vai se adaptando a cada
caso.

A grande estrela dessa edição é Michael Golden,
com sua diagramação inovadora e seu traço detalhista – é também quem mais perde
com o formatinho. Algumas sequências, como a splash page de Kazar enfrentando o
tiranossauro, são um verdadeiro espetáculo visual.

A entrada de Dave Cockrum na segunda parte parece
um retrocesso diante do verdadeiro espetáculo nos capítulos desenhados por
Golden. Cocrkum tinha um traço mais funcional e, curiosamente, isso de alguma
forma fazia com que Claremont soltasse mais o seu lado noveleiro, enchendo os
balões de pensamento dos personagens, mas sem comprometer a história
(futuramente Claremont transformaria essa característica num verdadeiro
defeito).

A última parte é desenhada por Paul Smith com
arte-final de Terry Austin e é uma volta ao deslumbre visual. A dupla se esmera
especialmente ao desenhar Ororo, provavelmente para alegria de Claremont, que
adorava a personagem.

No final, essa aventura na Terra selvagem é um
daqueles crossover inesquecíveis, numa época em que crossover era algo
extremamente raro.

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