O escritor
inglês Terry Pratchett revoluciou a literatura de fantasia ao introduzir o
humor no gênero, algo parecido com o que Douglas Adams fez com a ficção
científica em O guia do mochileiro das galáxias (não por acaso, os dois são
inglese).

Pratchett
criou um mundo fantático que consite num disco sustentado por elefantes
equilibrados nas costas de uma tartaruga. Um local onde ser mago é uma
profissão possível e qualquer coisa pode acontecer.

O autor
aproveitou a série para satirizar tudo, da vida moderna aos clássicos. Nessa
última categoria pode ser incluído o livro Eric, lançado no Brasil pela Conrad
em 2005.

Como a capa
indica, Eric é uma versão humorística de Fausto, o homem que vendeu sua alma ao
diabo (no título Fausto aparecer riscado e Eric aparece escrito em cima com
letras infantis).

Na trama,
Rincewind, o desastrado mago que fora enviado para o calabouço das dimensões em
um livro anterior, volta para Discworld ao ser convocado por um demonólogo. Na
verdade, o demonólgo, o garoto Eric Thusley, estava tentando chamar um demônio,
mas o que apareceu foi o mago.

Eric faz
três exigências: ter o domínio de todos os reinos do mundo, a mulher mais
bonita que já existiu e viver para sempre.

Mas, como
alerta Terry Pratchett, qualquer mago esperto que sabe o bastante para
sobreviver por cinco minutos também é esperto o bastante para perceber que, se
há algum poder na demonologia, ele está nas mãos dos demônios: “Usá-los em
benefício próprio seria como tentar matar ratos batendo neles com uma
cascavel”.  

Ou seja, o
lance todo do pacto com demônios consiste em dar tudo que a pessoa pediu e, ao
mesmo tempo, tudo que ela não quer. E, embora Rincewind não seja um demônio, é
exatamente isso que acontece.

Ao se tornar
o senhor do mundo, por exemplo, Eric, juntamente com Rincewind são enviados
para um país no meio da selva, Tezuman.

Eric imagina
que estar em em misterioso reino amazônico onde lindas princesas submetem seus
prisioneiros a ritos de procriação estranhos e exaustivos. E, de fato, há em
Discworld alguns desses reinos, onde a maioria dos exploradores são submetidos
a tarefas exclusivamente masculinas. A maioria, entretanto, não sobrevive
depois de anos instalando tomadas, montando prateleiras, cortando a grama do
quintal ou verificando barulhos estranhos no sótão.

Acontece que
os tezumanos são o povo mais irratável, pessimista e sombrio desse local. Eles
cultuam um deus jibóia enfeitado de plumas que exige sacrifícios.

Eric é
recebido com toda a pompa e ganha diversos presentes, para logo depois ser
preso, juntamente com o mago, pelos tezumanos que querem finalmente se vingar
do dono do mundo por ter colocado eles num país tão ruim, cheio de pântanos, de
mosquitos, o fato das rodas de pedra nunca ajudarem a movimentar as coisas por
mais que fossem colocadas na horizontal e puxadas com cordas.

Claro, eles
se livram dessa enrascada, mas só para cair numa arapuca ainda maior.

A mulher
mais bonita do mundo é Helena de tróia, Eleonor na versão de Discoworld, e os
dois vão parar em plena guerra de troia só para descobrir que a mulher mais
linda de todos os tempos se tornou uma matrona rodeada de crianças. “Ela parece
com minha mãe!”, reclama Eric.

E a saga
segue pelo início do mundo (afinal, quem quer viver para sempre teria que
voltar até a origem dos tempos) e até uma visita ao inferno, que virou uma
colônia de férias em que o objetivo é tornar tudo o mais tedioso possível.

Tudo isso
misturado com os comentários irônicos de Terry Pratchett que pontuam toda a
obra.

Enfim, um
livro rápido e divertido.   

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