Recentemente, atendi um pai de aluno que simplesmente me disse: “Professor, eu lavo as minhas mãos.” Pasmem, o assunto que discutíamos era a falta de comprometimento do seu próprio filho em assistir as videoaulas e o comportamento inadequado do garoto nos encontros presenciais, atitudes que vinham comprometendo todo o sucesso do binômio ensino-aprendizagem. Uma verdadeira afronta aos inúmeros profissionais da Educação que estavam se virando nos trinta para dar conta do recado em plena pandemia. Por conta do que dizia Paulo Freire: “não há educação sem amor”, tal afirmativa acabou me lembrando uma passagem bíblica, foi inevitável.

Provavelmente, você já deve ter ouvido falar em Pôncio Pilatos, o governador da província da Judeia, que – literalmente – lavou as mãos em um dos julgamentos mais importantes da história da humanidade. O réu em questão era um “rebelde” considerado fora dos padrões que chamava a atenção de todos e, consequentemente – ainda que só pregasse o amor –, incomodava os poderosos da época (líderes políticos e religiosos). Pilatos, como representante do poder na região, tinha total autoridade para julgar e decidir – por sua própria análise de mérito – se o acusado era culpado ou inocente; mas adivinhe? Ele não o fez.

O que me intriga é o fato de que, mais de dois mil anos depois, a história se repete, se repete e se repete. Fico me perguntando: Quantos pais, líderes, governantes – e, inclusive, colegas de profissão – também não sofrem com essa que chamo de Síndrome de Pilatos?

Por outro lado, o que me conforta é saber que na contramão da história, vez ou outra, “rebeldes” aparecem para – justamente – quebrarem o modus operandi padrão. Obrigado, Senhor!

Pouco tempo atrás, por exemplo, na terra do Improvável – apelidada de Brasil –, um representante do poder não se fez omisso e julgou aqueles que mereciam (e deveriam) ser julgados. Ao invés de lavar as mãos, lavou à jato. Depois disso, virou Ministro. Porém, não durou muito. Realmente, é impossível agradar a todos! Ainda assim, durante o curto tempo que ficou no cargo, teve não só a autoridade, mas também o carisma e quiçá um pouco do respeito de um povo que – ironicamente – ainda o via como um salvador, mas que, no fim, voltou a escolher Barrabás. Vai entender?!

Se somente a Educação tem o poder de transformar o mundo, e não há como falar de Educação sem Amor. Seja presencial ou à distância. A solução parece simples, mas não é. Amar dá trabalho, exige tempo, dedicação e paciência. É muito mais fácil lavar as mãos (com ou sem álcool em gel). Infelizmente, é só o que continuamos a ensinar dois mil anos depois de Cristo, e de Pilatos. 

Ecce homo”.

🙌

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