Contar toda
a história do cinema em menos de 200 páginas. Esse é o desafio do livro A
história do cinema para quem tem pressa, de Celso Sabadin, da editora Valentina.

Parece um
projeto destinado ao fracasso, mas Sabadin dá conta do serviço.  Autor de livros como “Vocês ainda não ouviram
nada – a barulhenta história do cinema” e sócio fundador da Associação
Brasileira de Críticos de Cinema, o autor consegue equilibrar a obra entre a
profundidade e a rapidez, abordando desde o surgimento da sétima arte até os
dias atuais em uma linguagem fácil e agradável.

O livro se
destaca principalmente pelas curiosidades que ajudam a contar a história. Por
exemplo, em 1872 o fotógrafo inglês Eadwear Muybridge foi contratado pelo
governador da Califórnia para ajudar a elucidar uma questão. O governador havia
apostado com um amigo que os cavalos tiram as quatro patas do chão enquanto
correm. Muybridge espalhou pela pista 24 câmeras munidas de disparadores
automáticos, que permitiram detectar minunciosamente os movimentos do equino.
Ao ver as fotos ele percebeu que se elas fossem exibidas rapidamente em
sequencia conseguiriam criar a ilusão de movimento, o que seria a base da câmera
cinematográfica. A propósito: o governador ganhou a aposta.

Embora
oficialmente o cinema tenha surgido na França, foi nos EUA que ele mais se
difundiu, principalmente graças aos poeiras (niclelodeons), locais de exibição
de limpeza precária, que vendiam aproximadamente 340 mil ingressos diários.

Foram os
poeiras que enriqueceram Thomas Edson e o ajudaram a criar um verdadeiro truste
que dominava completamente a produção cinematográfica no início do século XX.

Mas foram
donos de poeiras (na maioria imigrantes que investiram todas as suas economias
para montar as salas de exibição e ficaram ricos) que criaram os pequenos
estúdios, que conseguiram vencer a guerra contra Edson. Esses pequenos estúdios
se estabeleceram em Hollywood, na Califórnia porque o preço das terras era
barato e porque dava para filmar o ano inteiro (ao contrário de cidades como
Nova York, que sofre com nevascas, tempestades etc).

Universal,
Warner, Fox, Colúmbia e MGM são alguns exemplos, empresas que até hoje, mais e
um século depois, ainda dominam a produção de cinema norte-americano.

Entre essas
empresas que surgiram nos poeirões estava a Warner Bros. Eram 11 irmãos Warner
que haviam deixado a Polônia em busca de melhores oportunidades. Um deles, Sam,
encantou-se com o cinema ao trabalhar como projecionista e convenceu o pai a
investir todas as economias na compra de um projetor e aluguel de uma pequena
sala.

O cineminha
deu certo e logo se tornou produtora, mas estava a anos luz das maiores do ramo.

A aposta dos
irmãos Warner passou a ser o cinema falado. Começaram com Dom Juan, que tinha
apenas efeitos sonoros sincronizados, o que não despertou interesse da plateia
nem da imprensa e gerou um belo prejuízo. A sorte da empresa viria com O cantor
de jazz, em 1927. Apesar de ter poucas falas, os números musicais sincronizados
encantaram a plateia.

Logo todo
mundo só queria saber de filmes falados e os estúdios tiveram que se adaptar.
Mas o equipamento de captação de som era rudimentar e os microfones enormes, do
tamanho de um ralador de queijo. O jeito era escondê-los no cenário. Mesmo
assim, os atores tinham que falar num tom mais alto que o normal. Assim era
comum nos filmes da época os atores praticamente gritando ao lado de um vaso de
flores no qual estava escondido o microfone.

São
curiosidades e detalhes como esses que deixam o livro interessante. Mas a
história do cinema para quem tem pressa também consegue analisar e explicar os
movimentos cinematográficos, como o expressionismo alemão, o impressionismo
francês, o realismo soviético e o neorrealismo italiano. E ainda dar uma
passada de olhos sobre os dois países que mais produzem filmes no mundo, a
Índia e a Nigéria.

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