Em Coração de Jesus (MG¬) há 40 cavernas mapeadas. Acima, a de Madame Cassou, perto da cidade de Coração de Jesus, possui 23 km de extensão, entre grutas e passagens labirínticas. Um rapaz confessou que arrancou um pedaço de pedra purpurina da caverna, mas ela só brilhava dentro da caverna, não no exterior.

ATENÇÃO: não danifiquem estas formações rochosas! Levaram milhões de anos para se formarem e não se deve tirar um pedaço delas, somente por divertimento.  Um rapaz confessou que arrancou um pedaço de pedra purpurina da caverna, mas ela só brilhava dentro da caverna, não no exterior.

Uma
centelha de luz na escuridão. Um zumbido grave de uma mamangaba algures no teto.
Impossibilitado de me mexer ou de sentir qualquer objeto, animal ou pessoa,
buscava conforto no constante frio do ar de onde eu estava. Ecoou uma porta se
fechando, além. Lembrei-me da faísca, única fonte de luz no ambiente
dissimulado pelas trevas.

Eu
podia, porventura, tentar mover algum sólido pousado na mesinha em frente.
Apertei os olhos e vi. Uma vela, de quando em quando, soltava pequenas
labaredas de luz e calor, no centro da mesa. Concentrei-me, de uma forma
diferente de quando o fizera, dezenas ou centenas de vezes antes. Consegui
fazer a chama bruxulear. Mas era momentânea sensação de liberdade, que senti
como euforia de uma ansiedade fortalecedora. Sem poder calcular as dimensões do
recinto onde estava, fechei os olhos. Respirei calmo e relaxado e deixei minha
mente completar o trabalho. E vi.

Em
algum lugar daquele ambiente, seres humanos aguardavam. Remexeram-se, como se
soubessem que aquilo aconteceria, o bruxulear da vela. Interessante… captei,
como se sintonizasse as frequências de um antigo aparelho de rádio, vibrações
das mentes agitadas daqueles homens. Eu podia
sentir, mas sem compreender a linguagem daquelas criaturas. Eram
primitivas, brutas. Uma delas apontou para a mesa. Um jarro em formato curvo
tombou, derramando água. A vela tremeluziu e senti suor escorrer de minha
testa.

Mas,
testa? Seria meu corpo, mas eu estava sem poder movê-lo, vê-lo, ou mesmo
fazê-lo responder a meus impulsos mentais. Senti o esforço descomunal que fazia
com minhas costas e meu pescoço, mas imóveis, apesar disso. Desmesurada foi a
tensão que transmitia aos nervos de minhas mãos e pés. Porém, sabia que o ápice
daquele esforço estava por vir.

Os
músculos de meus malares, minhas mandíbulas em repouso até aquele momento,
forçaram minha boca a se abrir. O rosnado de uma fera se fez ouvir. Vinha de
distâncias imensas, ou era o produto da vibração de minhas cordas vocais? Minha
cabeça tremia. Os dedos das mãos enclavinharam-se, torcendo para formar punhos
fechados.

A
mesa voou por aquele local, lançando a vela, pratos de metal, copos e outra
jarra de barro pelo espaço. Burburinho baixo. Um grito. Uma frase indecifrável dita
para ser transformada em algo possível de ser compreendido. Eram Homo Habilis,
Homens de Neandertal, Homens de Cro-Magnon ou Homo sapiens? Pela estrutura
craniana, o mais provável seria Cro-Magnons, a vertente mais antiga dos Homo
sapiens que habitou a Europa. E seus rostos não eram por demais primitivos.
Possuíam características que seriam levadas pelos Homo sapiens e terminariam no
homem moderno, os Homo sapiens sapiens.

Estes
eram pacíficos, os que me rodeavam. Comecei a sentir todo o meu corpo. Estava deitado
em uma mesa de pedra lisa, lixada antes e tornada confortável. Sem ranhuras,
trincas, fendas, buracos. Construída como um altar religioso. Puxei meus
braços. Os Cro-Magnons gritaram e puseram-se de joelhos. Empurrei meu corpo
endurecido pela imobilidade de dias para cima, usando as mãos. Sentei-me. Um
zumbido diferente do de um inseto inundou o local. Os homens rezavam ou, pelo
menos, tartamudeavam em voz alta, as sílabas arcaicas se atropelando.

Minha
garganta estava seca. Levantei-me e contornei o grupo de dez ou quinze homens
sem necessidade de luz para enxergar. Minha mente me fornecia um mapa daquele
complexo subterrâneo de salas, em que uma série de corredores levavam a sala ao
restante dos ambientes.

Subi
uma rampa de pedriscos e cascalho grosso. Vi-me acima de um salão, onde mil
Cro-Magnons armados de lanças com pontas de sílex e facas de pedra esculpidas e
afiadas por dias de trabalho árduo, gritavam e levantavam as lanças. Percorri
as margens próximas ao teto, que delimitavam o imenso recinto e, ao chegar logo
acima dos líderes dos homens primitivos, gritei:


Não escutem o que eles estão dizendo. São impostores!

A
algazarra cessou e olharam para cima. Um homem tremeu e pôs-se de joelhos,
seguido por outros. Em breve, os mil Cro-Magnons estavam ajoelhados, esperando
que as ordens fossem ditas. Mas esperavam pelas minhas ordens ou por ordens dos
sacerdotes?

Eles
berraram, e entendi que queriam que a horda ajoelhada investisse sobre a minha
pessoa. Surpreendi-os, causando uma queda de parte do caminho que rodeava o
salão. Parecia fácil mover e esfacelar objetos, após o repouso na sala da
caverna. Os homens puseram-se de bruços, enquanto os sacerdotes os ameaçavam.
Mas com o quê? Sobrevoei — eu podia
planar!
— o imenso espaço e pousei no lado mais afastado da multidão. Continuei
a ouvir os líderes assustando seus discípulos, com uma palavra. Olhando para o
chão, vi pequenas nuvens de fumaça subindo até se dissiparem, a dois metros de
altura.

Lava!

Perguntei:


O que é essa lava, em comparação com meus poderes, chefetes de uma quadrilha? —
Os seres deitados de bruços olhavam ora para seus sacerdotes, ora para mim. Fiz
os líderes daquele grupo subirem no ar. Eles gesticulavam e gritavam,
agressivos. Mas outros berros foram ouvidos, eram gritos de horror…

Deixei
os sacerdotes caírem de uma altura de trinta metros.

 

–//–

 

Os
homens viram-me levitar até o teto do salão. Raios azuis rodearam-me, partindo
da ponta de meus dedos. O medo, se é que aquele sentimento de terror profundo
podia ser chamado assim, foi absorvido por completo, meu cérebro era uma
esponja que extraía as sensações de cada homem.

Ordenei
com minha mente que a multidão se mantivesse de costas contra as paredes do
salão. Relâmpagos de cem mil MW de potência irromperam de minha testa e iluminaram
as sombras. Contra a luminosidade, que sobressaía através de uma abertura no
topo da caverna, a noite se tornou feérica, e a escuridão transformou-se em
luz.

Como
uma perfuratriz colossal, os raios de eletricidade cavaram com estrépito um
poço no centro do enorme salão. A areia, a terra, o granito e o cristal de
rocha voaram para o alto e fumaça desprendeu-se do buraco, obrigando aqueles
homens primitivos a se abaixarem. Em cinco minutos, um ruído borbulhante de
líquido em alta temperatura levou-me a descer. Pousei entre os sacerdotes
mortos e a cratera aberta, de onde o magma das profundezas subiu à superfície e
começou a se espalhar pelo salão.

Converti
a energia térmica da lava em energia elétrica. Concentrando-me, fiz com que a
lava fervente esfriasse, e fosse transformada em rocha. Transferi o potencial
elétrico da massa rochosa para o solo. Olhei em torno e me decidi. Fiz com que
meu poder eletromagnético modificasse a mente daqueles homens. Seus neurônios
passaram a captar um valor superior a um bilhão de vezes o que a realidade lhes
fornecia, até o momento. Um Cro-Magnon afastou-se do grupo e desenhou com sua
faca na areia, diagramas de máquinas a vapor. Outro, escreveu equações de
caráter bioquímico no solo. Em um frenesi, todos se ajoelharam e transformaram
a terra e a camada de pedriscos que havia no chão em dezenas de equações
matemáticas e físico-químicas.

Eu
havia pousado na trilha que circundava o salão e observara os homens que, nesse
momento, demonstravam pouco ou nenhum indício de ignorância. Sorri, satisfeito.
Emiti uma esfera pulsante de energia elétrica, que abrangeu todo o planeta.

Uma nova realidade
surgira, para aqueles seres que, com minha ajuda, haviam galgado um novo patamar da evolução.


SOBRE  O AUTOR:

Roberto Fiori é um escritor de Literatura Fantástica. Natural de São Paulo, reside atualmente em Vargem Grande Paulista, no Estado de São Paulo. Graduou-se na FATEC – SP e trabalhou por anos como free-lancer em Informática. Estudou pintura a óleo. Hoje, dedica-se somente à literatura, tendo como hobby sua guitarra elétrica. Estudou literatura com o escritor, poeta, cineasta e pintor André Carneiro, na Oficina da Palavra, em São Paulo. Mas Roberto não é somente aficionado por Ficção Científica, Fantasia e Horror. Admira toda forma de arte, arte que, segundo o escritor, quando realizada com bom gosto e técnica apurada, torna-se uma manifestação do espírito elevada e extremamente valiosa.
Roberto Fiori sempre foi uma pessoa que teve aptidão para escrever. Desde o ginásio, passando pelo antigo 2º Grau, suas notas na matéria de redação eram altas, muito acima da média. O que o motivava a escrever eram suas leituras, principalmente Ficção Científica e Fantasia. Descobriu cedo, pelo mestre da Fantasia Ray Bradbury, que era a Literatura Fantástica que admirava acima de qualquer outro gênero literário.
Em 1989, sob a indicação de uma grande amiga sua, Loreta, que o escritor conheceu a Oficina da Palavra, na Barra Funda, em São Paulo. E fez uma boa amizade com o maior professor de literatura que já tive, André Carneiro. Sem dúvida alguma, se não fosse pelo André, Roberto nos diz que jamais saberia o que sabe hoje, sobre a arte da escrita. Nos cursos que ele ministrava, o autor aprendeu na prática a escrever, as bases de como tornar uma mera história de ficção em uma obra que atraísse a atenção das pessoas.
“Futuro! – Contos fantásticos de outros lugares e outros tempos” é uma obra parte Fantasia, parte Ficção Científica, parte Horror, e que poderá vir a se tornar realidade, quer em outra época, no futuro, quer em outra dimensão paralela à nossa. Vivemos em um Cosmos que não é o único, nessa teia multidimensional chamada Multiverso. Ele existe, segundo as mais avançadas teorias da cosmologia. São Universos Paralelos, interligados por caminhos ou “wormholes” – buracos de minhoca. Um “wormhole” conecta dois buracos negros, ou singularidades, em que a gravidade é tão elevada que nada pode escapar de sua atração gravitacional, nem mesmo a luz. Em tais “wormholes”, o tempo e o espaço perdem suas características, tornam-se algo que somente pode-se especular e deduzir matematicamente.
“Futuro! – Contos fantásticos de outros lugares e outros tempos” é uma coletânea de treze contos e noveletas. Invasões alienígenas por seres implacáveis, ameaças vindas dos confins da Via Láctea por entidades invencíveis, a luta do Homem contra uma raça peculiar e destrutiva ao extremo, terrível e que odeia o ser humano sem motivo algum. Esses são exemplos de contos em que o leitor poderá não enxergar qualquer possibilidade de sobrevivência para o Homem. Mas, ao lado de relatos de pesadelo, surgem contos que nos falam de emoções. Uma máquina pode apresentar emoções? Ela poderia sentir, se emocionar? Nosso povo já esteve à beira da catástrofe nuclear, em 1962. Isso é realidade. Mas e se nossa sobrevivência tivesse sido conseguida com uma pequena ajuda de uma raça semelhante à nossa em tudo, na aparência, na língua, nos costumes? E que desejaria viver na Terra, ao lado de seus irmãos humanos? Há histórias neste livro que trazem ao leitor uma guerra milenar, que poderá bem ser interrompida por um casal, cada indivíduo situado em cada lado da contenda. E há histórias de terror, como uma presença, não mais que uma forma, que mata, destrói e não deixa rastros. 
Enfim, é uma obra de ficção, mas que poderá vir a se revelar algo palpável para o Homem, como na narrativa profética da destruição de um planeta inteiro.
PARA ADQUIRIR O LIVRO OU SABER MAIS: CLIQUE AQUI.
Compartilhe!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *