Natural da cidade de Ponta Grossa (estado do Paraná), professor de História da Rede Pública do Paraná, Escritor e Historiador. Especialista em ensino de História e Geografia, e em ensino religioso e mestre em História formado pela UEPG, já publicou artigos para jornais como o Diário da Manhã e o Diário dos Campos (de Ponta Grossa) e Gazeta do Povo (de Curitiba), assim como as obras locais “A Saga do Veterano: um pouco dos 100 anos (1905-2005) em que o Clube Democrata marcou Ponta Grossa e os Campos Gerais” (em parceria com Isolde Maria Waldmann) e “Memórias e reflexões sobre um povo: Colônia Sutil”. Possui o canal no YouTube O Outro Lado da História https://www.youtube.com/@ooutroladodahistoria8183

ENTREVISTA:

Conexão Literatura: Poderia contar para os nossos leitores como foi o seu início no meio literário?

Luis Marcelo Santos: Na adolescência com o interesse cada vez maior pela história dos povos índios da América como um todo, conforme fui descobrindo um universo comumente ignorado que sendo divulgado cativa, apaixona, nos faz ver com outros olhos a esses povos, dos quais também carregamos muitas heranças.

Conexão Literatura: Você é autor do livro “A Terra onde não se morria – A retomada da busca sagrada – Vol. I”, poderia comentar?

Luis Marcelo Santos: Uma história para se refletir acima de tudo. Refletir sobre nossos valores, sobre as relações de poder, sobre como somos condicionados em nome da aceitação social. Vemos nosso protagonista que lentamente vemos não ser de todo um herói na mesma proporção que seus oponentes, pouco a pouco, notamos não serem em nada os vilões da trama. É a disputa pelos melhores recursos, o preconceito justificado por ideologias, em meio ao drama de seu povo que, como muitos outros, vive dividido entre sua luta pela sobrevivência, a dureza da natureza e as contradições das próprias crenças. Vemos que Apoçub é um homem forjado por uma antiga profecia que prometia um messias capaz de libertar seu povo da miséria e da dor. Contudo, ao crescer, Apoçub descobre que as promessas de grandeza frequentemente escondem armadilhas de poder, ego e destruição. Nisso, perseguido pelas sombras do passado e pela sede de guerra de seu falecido irmão, Tubim, ele busca, inicialmente, a paz — apenas para perceber que o próprio povo não está preparado para ela. Entre alianças quebradas, traições, perdas irreparáveis e amores destruídos pela violência, Apoçub se vê preso entre dois caminhos: ceder à lógica da guerra que o formou ou tentar, mais uma vez, ser a mudança que todos esperavam, mesmo quando ele próprio já não acredita mais nessa possibilidade.

Conexão Literatura: Como é o seu processo de criação? Quais são as suas inspirações?

Luis Marcelo Santos: Basicamente os fatos históricos que me inspiram. Pela pesquisa histórica dos mais variados estudiosos do tema indígena, imagino as tramas.

Conexão Literatura: Poderia destacar um trecho do seu livro especialmente para os nossos leitores?   

Luis Marcelo Santos: CAPÍTULO 1: UMA CRENÇA

Para eles, a vida é uma dura relação de força para com a natureza. Onde a mata é uma soberana impiedosa. Contudo, talvez também porque os que mais sofrem com isso, assim o aceitam.

Ou, ao menos, é o que pensa agora, Maçaranduba, um veterano de cabelos grisalhos e pele morena. Sentado frente a um vasto horizonte, abraçando a um dos seus netos, um menino franzino:

– Ora! Quem garante que todo o nosso sofrimento é por causa da nossa limitação em ver o mundo de outro jeito? Quem pode dizer que não? Igual, talvez, seja só uma perda de tempo, crer em meras fantasias ditadas pela nossa fé. Pois, se elas não passarem, simplesmente, de respostas rasas, para nos aquietar dúvidas e justificar o mero aceitar das coisas?

Reflexões que ele faz inquieto com um ritual do seu povo agora promove. Cujo desfecho, ele teme, a qualquer momento, trazer-lhes o contrário dos que as suas crenças dizem.

Igual a outras situações parecidas que ele agora relembra, por vezes tateando o seu rosto repleto de rugas. Que, de certo modo, também ajudaram o paraíso em que vivem, a igualmente tornar-lhe maldito. Tanto que o chamam de Vale da Dor. Um sublime trecho de densa Mata Atlântica que a sua gente vive a lutar tanto com a terra como com outros homens.

Já que a terra nunca lhes dá o suficiente para alimentar a todos. O que lhes obriga a repelir a todos os que a terra, por si, não consiga mais sustentar. Sejam irmãos que a tribo superpovoada, então os expulsa para que criem outras comunidades longe dela. Sejam outras tribos que tentam se instalar nos seus domínios e roubar-lhes a sua posse.

Igual fez o seu povo, os taxanuas, num passado não muito distante, com os chamados tapuias (selvagens, bárbaros). No caso, um nome genérico, que todos os povos da família tupinambá dão aos que, simplesmente, não são como eles.

Tal qual família, que se entenda todo o conjunto de tribos com mesma língua e costumes. Como a desses tupinambás que, há gerações têm, pouco a pouco, se espalhado pelos litorais desta terra de Brasil. Tanto pela necessidade da sobrevivência, como pela crença que, de tempos em tempos, joga esses povos numa busca fantástica.

Sim. Um paraíso terreno onde encontrariam a imortalidade, juventude e abundância. Conhecido como a terra onde não se morria. Sempre buscada em épocas de grande desespero, como fome ou guerras em demasia. Quando saem aleatoriamente a buscá-la, chegando a percorrer descomunais distâncias, até que, aos poucos, dela desistem.

E, assim, a esquecem por ora. Quando se instalam no primeiro bom espaço que acham, tendo ou não, já um dono vivendo nele. Uma vez que as suas crenças lhes atribuem um falso senso de superioridade perante os demais povos, que nada se parecem com eles.

Isso mesmo, justificativas como essa que, agora, fazem Maçaranduba se questionar sobre os possíveis absurdos defendidos pelas crenças religiosas. Que, deste modo, tanto encorajaram a sua gente a tomar esse magnífico vale. Repleto de rios cristalinos, chuvas regulares, terra fértil, abundância de animais e outros recursos, localizado em algum ponto entre o Pico das Almas e a Enseada do Camamu[1],.

Não tendo pudores assim, em banir aos tapuias locais para o outro lado das grandes serras, onde a mata dá vez ao cruel semiárido da caatinga. E, como consequência, aos tapuias, que essas alegações em nada os convencem, lutam desesperadamente para retomar o que era seu.

– Tudo piorado por alegações questionáveis _ele suspira então, afagando agora aos cabelos do neto. – Igual a busca por soluções acaba limitada pela espera em promessas igualmente questionáveis. E o pior, pelas quais eu também sou, em parte, culpado.  

Se referindo ao aguardo deles, por incontáveis anos, de um messias, um herói divino que resolva todo o drama que vivem. No caso, um bravo que, mesmo todos sabendo ser um homem igual aos demais, todos esperam que ele, um dia resolva a todos os seus problemas.

Seu nome, Apoçub. A quem Maçaranduba agora começa a se lembrar de como, o mito sobre este outro, começou. Agora que se pôs a se levantar com o menino sobre os seus braços. Tendo de retornar ao festejo, que ele teme ainda o amaldiçoar, pelo que pode se seguir.

Conexão Literatura: Como o leitor interessado deve proceder para adquirir o seu livro e saber um pouco mais sobre você e o seu trabalho literário?

Luis Marcelo Santos: pela Amazon, através do link https://www.amazon.com.br/TERRA-ONDE-N%C3%83O-SE-MORRIA-ebook/dp/B0846R1P6K . Também a quem se interesse tenho o canal do Youtube https://www.youtube.com/@ooutroladodahistoria8183 , assim como uma pagina no Facebook de mesmo nome. Creio que é bom começo para quem queira conhecer um pouco mais do meu trabalho.

Conexão Literatura: Como você analisa a questão da leitura no Brasil?

Luis Marcelo Santos: Infelizmente pouco incentivada. Cada vez menos as pessoas leem e isso se reflete em um domínio da escrita cada vez mais limitado, a criatividade em todos os aspectos igualmente diminui pela falta de uma estimulação valiosa que é a leitura. O digital mesmo podendo andar de mãos dadas com a leitura, por ora, tem mais desestimulado do que fortalecido a prática da leitura.

Conexão Literatura: Existem novos projetos em pauta?

Luis Marcelo Santos: Vários, tanto na ficção como na não ficção, trabalhos de resgate históricos

Perguntas rápidas:

Um livro: 1984

Um ator ou atriz: José Wilker

Um filme: V de Vingança

Um hobby: viajar

Um dia especial: cada dia sempre pode nos reservar surpresas das mais maravilhosas

Conexão Literatura: Deseja encerrar com mais algum comentário?

Luis Marcelo Santos: Esta é uma obra que questiona, de maneira profunda, como as crenças — sejam elas religiosas, culturais ou políticas — moldam sociedades, sustentam identidades e, muitas vezes, também alimentam ciclos de opressão, violência e dor. A história faz uma crítica sutil, mas poderosa, às estruturas de poder que se perpetuam através de mitos, lendas e promessas de salvação. E, ao mesmo tempo, revela a humanidade de seus personagens — seres que amam, sofrem, se arrependem, se contradizem e buscam sentido em um mundo onde as respostas nunca são simples.

O livro é extremamente rico, tanto na ambientação quanto na construção cultural dos personagens. Ele apresenta uma profundidade rara quando aborda os dilemas humanos, as contradições das crenças, as tensões entre tradição e mudança, e as consequências da guerra. Podendo assim elencar os seguintes pontos fortes:


[1] Trata-se de algum ponto da região da Zona da Mata, situado no Estado da Bahia, entre as cidades de Salvador e de Ilhéus. Desde já deve se perceber que muitas localidades mencionadas nessa trama serão postas com seus nomes atuais para que seja possível a visualização dos trajetos de nossos personagens.

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