Andréa Berriell – Foto: Alexandre Kenji


Fale-nos sobre
você.
 

Sou latino-americana, autora de suspense, policial,
horror e insólito. Nasci em Bauru, interior de São Paulo. Vivo em Curitiba
desde 1998 onde sou professora no Curso de Arquitetura e Urbanismo na
Universidade Federal do Paraná. Ecofeminista, gosto de pensar que sou uma
agricultora urbana em formação; tenho um vício: recolher folhas secas da rua
para fazer compostagem. Pratico meditação transcendental diariamente. Escrevi o
romance Mulheres que plantam a Lua
(2018), contemplado no 1º Edital de Fomento à Cultura do Estado do Paraná. Tive
um conto A descida finalista no
Prêmio Off Flip 2021. Roxo, meu
primeiro romance policial e de mistério, foi publicado no kindle (2021) e pela
Editora O Grifo (2022). Os contos O Bedel
(“Escola do Horror”, 2022), A Estrela
(“Amores Macabros”, 2022), Mais
Grimpa
(“Dia das Bruxas”, 2022) e Onome
(“Férias macabras, 2023) integram coleções organizadas por autoras e autores do
Clube de Leitura Escuro Medo. E o conto O
carpete cor de vinho
(“Gótico Natalino”, 2022) faz parte da coleção
organizada pelo Coletivo Nídaba. No momento divido meu tempo entre dar aulas, e
escrever contos; uma novela (em andamento) que tira meu sossego e me assombra;
e o livro que tem a história em sequência do Roxo (serão quatro livros no
total). Minha ideia para essa tetralogia é que as histórias são independentes
umas das outras, a cada livro uma investigação é concluída, mas as personagens
investigadoras se mantêm as mesmas.
 

ENTREVISTA: 

Fale-nos sobre
o livro. O que motivou a escrevê-lo?
 

Fui escoteira, por um curto período, quando criança;
então, um dia, me veio uma imagem de uma cena que vivi num acampamento, de um
banho coletivo depois de uma festa à fantasia. Na imagem, que era cheia de
movimento, então era mais um filme, as meninas iam entrando numa banheira e,
como as fantasias eram de papel crepom, a água foi ficando colorida e suja. No
final havia uma água cinza chumbo e gelada onde minha prima e eu entramos.
Éramos as mais novas, as últimas na fila do banho. Por incrível que pareça,
Roxo nasceu no dia do lançamento do meu primeiro livro, o “Mulheres que plantam
a Lua”. Depois do lançamento na Livraria da Vila – onde não consegui piscar por
causa do tamanho da fila para as dedicatórias –, eu estava devorando
salgadinhos da festa com uma amiga, minha prima (a do acampamento) e outros
familiares que vieram da minha cidade natal e estavam hospedados na minha casa
ou em hotéis. Finalmente eu estava tomando uma taça de vinho e experimentando
aqueles salgados à mesa da minha casa, na companhia das pessoas que amo. Então,
foi um momento feliz, com sensação de tarefa cumprida. E me perguntaram o que
eu ia escrever agora. E eu respondi: já estou escrevendo um romance policial,
que vai se chamar Papel crepom. Inventei na hora. A imagem daquele banho com as
escoteiras, uma imagem coagulada, em movimento, acompanhada de uma sensação
profunda e desconfortável na pele e dentro do estômago. Isso se somou ao meu
interesse por literatura de suspense e policial, e à observação de muitos anos
de tudo que se refere a crimes e performances praticados por assassinos
seriais. Foi assim que nasceu o Roxo. 

Fale-nos sobre
seu outro livro.
 

O “Mulheres que Plantam a Lua” é um romance sobre uma
professora universitária enlutada pela perda do filho com síndrome na gestação,
que sofre violência no trabalho e se sente desconectada das pessoas. A
personagem, talvez pela imensa vontade de viver outra vida, alimenta um amor
platônico que a afasta do companheiro, e vai, junto com a omissão dele,
degradando progressivamente o casamento de muitos anos. No momento de maior dor
e sofrimento, essa personagem decide participar de um encontro de mulheres,
relutante e cética no início, acaba descobrindo coisas estranhas sobre si
mesma, faz amizade com mulheres que vivem uma relação mais profunda com seus
corpos, sua sexualidade e o sangue menstrual. Plantar a Lua é um ritual
originário dos povos ameríndios, as mulheres indígenas são consideradas
sagradas durante o período menstrual chamado de Lua, um período em que
acreditam entrar em conexão profunda com os espíritos e a sabedoria da
natureza. O ritual consiste em derramar o sangue sobre a terra, não em
absorventes, não no lixo. O sangue é considerado sagrado e capaz de fazer uma
ponte entre o mundo material e o mundo espiritual. E essa personagem, a
professora do Mulheres que plantam a Lua se lança numa aventura de
autoconhecimento, de um estreitamento da relação com seu próprio corpo. O livro
é insólito, fala de questões obscuras da sexualidade das mulheres, ainda pouco
exploradas na literatura.
 

Como analisa a
questão da leitura no país?
 

Comparativamente com outros países com muito menos
extensão territorial e número de habitantes, somos um país que quase nada lê.
Embora eu acredite que nenhum cenário deva ser visto como algo consolidado ou
imutável, sei que algumas coisas são resistentes às mudanças, como a cultura do
consumo e do imediatismo que vivemos hoje. Mas acredito no poder regenerativo
da educação pública, gratuita e de qualidade. Acredito que toda pessoa, se
tiver uma única chance de experimentar um período de leitura agradável, sem
interrupções, adequada à sua capacidade de apreensão naquele momento, e com alguma
aderência aos seus interesses, essa pessoa se apaixonará pelos livros para todo
o sempre. A partir de então, teremos mais leitores, pessoas capazes de
desenvolver suas subjetividades através do pensamento crítico. E as escritoras
e escritores poderão viver de escrita no nosso país. O que fará a qualidade da
literatura aumentar e essa roda entrará num movimento de abundância e
inteligência, exigindo menos esforço do que hoje em dia.
 

O que tem lido
ultimamente?
 

Leio cada vez mais mulheres. Comecei o ano lendo as
estupendas Verena Cavalcanti (Inventário de Predadores Domésticos), Irka
Barrios (Júpiter, Marte Saturno), Annie Ernaux (O lugar / A vergonha). Essa
semana (hoje é 20 março de 2023) acabei de ler De profundis do Oscar Wilde e estou começando Mil Placebos do
Matheus Borges, esse último para o Clube de Leitura Escuro Medo,
mediado pela Irka Barrios, que tem o ROXO como o livro de abril. No final de
2022 me impressionei muito com os contos da Mariana Enríquez. Pretendo ler e
estudar autoras latino-americanas. Me interesso cada vez mais pelo que elas têm
a dizer.
 

Você transita
em outras esferas da arte. Você pintou a imagem da capa do ROXO. Como é isso?
 

Era muito sofrido para mim quando eu era jovem e tinha muitas
ideias e o impulso de fazer coisas tão diferentes ao mesmo tempo, como
literatura, pintura e arquitetura. Depois compreendi que eu sou assim, que preciso respeitar esses diferentes fluxos
criativos. Eles não se atrapalham, ao contrário: um alimenta e potencializa o
outro. Quando eu pinto, materializo imagens que eu vejo na minha escrita. E
muitas vezes, acontece o seguinte: crio cenas a partir de imagens que eu pinto.
Com a arquitetura é a mesma coisa, penso os cenários o tempo todo a partir do
meu repertório como arquiteta. Dou aulas de projeto, vivo pensando em espaços e
formas e na sua conexão com as cidades e o campo. Existe um extenso litoral
complexo e cheio de vida entre essas diferentes práticas. Quando me coloco em
ação, em qualquer uma delas, a magia acontece.
 

Link para o
livro:

https://www.ogrifo.com.br/pd-9355cb-roxo.html?ct=1b3f05&p=1&s=1 

 

CIDA SIMKA

É licenciada em Letras pelas
Faculdades Integradas de Ribeirão Pires (FIRP). Autora, dentre outros, dos
livros O enigma da velha casa (Editora Uirapuru, 2016), Prática de escrita:
atividades para pensar e escrever (Wak Editora, 2019), O enigma da biblioteca
(Editora Verlidelas, 2020), Horror na biblioteca (Editora Verlidelas, 2021) e O
quarto número 2 (Editora Uirapuru, 2021). Colunista da revista Conexão
Literatura. 

SÉRGIO SIMKA

É professor universitário desde
1999. Autor de mais de seis dezenas de livros publicados nas áreas de
gramática, literatura, produção textual, literatura infantil e infantojuvenil.
Idealizou, com Cida Simka, a série Mistério, publicada pela editora Uirapuru.
Colunista da revista Conexão Literatura. Seu mais recente trabalho acadêmico se
intitula Pedagogia do encantamento: por um ensino eficaz de escrita (Editora
Mercado de Letras, 2020) e seu mais novo livro juvenil se denomina O quarto
número 2 (Editora Uirapuru, 2021). 

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