Em 1961 Erich Fromm sobre 1984, de George Orwell, disse que o livro poderia ser uma advertência. “A menos que o curso da história se altere, os homens do mundo inteiro perderão suas qualidades mais humanas, tornar-se-ão autômatos sem alma, sem sequer ter noção disso.” Se por algum tempo a advertência chegou a funcionar, hoje ela encontra-se destroçada pela internet com suas redes sociais e seção de comentários em sites de notícias. Aquilo que Fromm dizia ser uma advertência de Orwell, foi em nossos tempos totalmente ignorado, e sem dúvida algumas, os movimentos políticos e sociais que vemos acontecerem ao redor do mundo apontam para este sujeito autômato, desprovido de qualquer humanidade.
Não à toa que 1984 tem sido uma das obras mais procuradas em livrarias americanas, sendo que chegou a subir 10.000% a procura pelo livro no site da Amazon americana. Talvez seja um lampejo d que mais pessoas poderão conhecer ou compreender conceitos e situações abordadas em 1984 que encontram referências no mundo de hoje, e, no caso deste artigo, podem encontrar paralelos, por exemplo, com o tão discutido Facebook.
Vejamos três questões fundamentais na obra de Orwell: o duplipensamento capaz de possibilitar o sujeito a duas posições totalmente contraditórias. Algo como as pessoas que vemos compartilhar “toda sua cristandade” ao mesmo tempo que são capazes de exalar racismo, xenofobia e intolerância pelas redes sociais. Penso que este é um bom exemplo de como o duplipensamento de Orwell pode ser apresentado paras práticas “modernas” de internautas que sequer possuem alguma noção daquilo que “falam” e suas contradições. O duplipensamento, aliás, é uma das preocupações do Ministério da Verdade (miniver) no qual trabalha Winston Smith, “mudando a verdade” de acordo com os interesses do partido. Fromm nesse sentido fala da expressão “verdade móvel” que surge em “Life in The Crystal Palace” e que acaba sendo a mesma coisa que a palavra pós-verdade, escolhida como a palavra do ano de 2016. Isso porque a verdade tornou-se móvel e as redes sociais, especialmente o Facebook constituem-se hoje como uma espécie de Ministério da Verdade de Orwell onde a verdade e o fato alternam-se perante a procura daquilo que o leitor deseja acreditar. Hoje é como que se a grande maioria dos usuários do Facebook fossem colegas de Winston publicando, ou e geral compartilhando notícias fakes nas quais gostariam de acreditar.
Mas a internet abre espaço para outras tenebrosidades de 1984, como o famigerado “dois minutos de ódio” quem em nossos tempos encontra similaridade perfeita nas redes sociais, como o próprio Facebook, o Twitter, mas especialmente os comentários em sites e portais de notícias. No caso deste último, ali nos rodapés de páginas virtuais é como se tivéssemos milhares e milhares de habitantes da Oceânia a destilar seus minutos de ódio que se parecem eterno. Desde que se tenha estômago para tal, uma simples lida em tais comentários comprovará que ali está todo o mecanismo presente dos “dois minutos” de 1984. Inclusive o ódio irascível.
Ao refletir sobre isso é preciso concordar com Antônio Cândido de que a literatura é um direito de todos os cidadãos. Quiçá um dever, Leituras de obras como 1984 deveriam ser massificadas, para que talvez, e apenas um talvez, os homens não desconhecem ou não deixassem de compreender advertências como 1984. E se isso ocorre em países desenvolvidos, pensem então, o quanto não estamos sendo prejudicados numa nação em que a grande maioria torce o nariz para a leitura. Não ocorresse isso, talvez uma ou outra alma perdida fosse capaz de perceber que o Facebook e a internet estão tornando-as uma personagem distópica com suas verdades móveis e um ódio inumano que em nada pode contribuir para a paz ou o progresso da espécie.



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